No mês de maio de 2014, em meio a todo o clima de manifestações e
greves, o que voltou a atenção da sociedade para discussões políticas -
principalmente os objetivos e métodos de como se deve fazer uma greve - fomos
pegos de surpresa por algo que fugiu aos padrões das discussões. A intolerância
religiosa novamente tomou posicionamento.
Juiz Eugênio Rosa de Araújo |
O Juiz Federal da 17ª Vara Federal, Eugênio Rosa de Araujo, se
posicionou de forma contrária a uma decisão do Ministério Público Federal sobre
a retirada de vídeos ofensivos no site Youtube feitos por neo pentecostais aos
praticantes de religiões afro-brasileiras. A justificativa do juiz foi a de que
“manifestações religiosas afro-brasileiras não se constituem religião”.
Essa decisão explodiu revolta não apenas entre os praticantes da
Umbanda e do Candomblé, mas entre seus simpatizantes e parte da sociedade que
compreende a importância de tais religiões na formação da cultura brasileira.
Tais revoltas se manifestaram em atos de rua, com o posicionamento da mídia a
favor da opinião pública e de discussões via rede de comunicações por internet,
o que fez com que o MPF pressionasse o juiz Eugênio, fazendo-o voltar atrás
sobre seu posicionamento.
Os argumentos do Juiz Federal nos mostra que o perigo da intolerância
religiosa está para além da existência de líderes religiosos extremistas nos
cargos políticos. Essa argumentação usou um discurso técnico, ou seja, sem fala
religiosa, o que prova que a própria formação da política brasileira se
constrói sobre preconceito cultural, valorizando muito mais formas de culto de
base europeia.
Toda solidariedade as religiões afro-brasileiras! |
Nós da UJC percebemos que o posicionamento de uma figura pública de
alto escalão sobre uma temática tão polemica está presente no contexto de uma
sociedade rigidamente hierarquizada. Essa mesma sociedade se vê desesperada com
o aumento da voz política e da luta das classes marginalizadas e
majoritariamente negras, que estão expondo seu cotidiano e práticas culturais
por conta própria, não mais dependendo da aprovação da “moral e dos bons
costumes” dos burgueses.
Nisso, lutamos juntos por uma cultura popular independente das
exigências burguesas que as modificam para que sejam consideradas civilizadas,
gerando o ódio pelo racismo e pelo preconceito de classe. Para isso, temos em
mãos uma série de questões que devem ser debatidas e praticadas, principalmente
sobre os caminhos a serem seguidos para a ampliação da liberdade de expressão.
Só assim conseguiremos fazer com que não apenas as religiões
afro-brasileiras, mas o funk, o hip-hop, o grafite, as rádios comunitárias, a
capoeira e demais atividades de caráter popular consigam construir seus
próprios caminhos. Só assim podemos educar a sociedade para a compreensão sobre
a intensa e complexa rede de práticas culturais diferentes que constroem nossa
sociedade e o quanto elas precisam ser livres para se desenvolverem, sem a
ganância por lucro e controle político da burguesia moralista e capitalista.
Texto do camarada Gabriel M., professor de História e
membro do Núcleo Elizeu Alves de Jovens Trabalhadores do Rio de Janeiro
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