LÁ VAI SEU CÉREBRO PELA DIREITA
Felipe Lustosa*
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A mídia, como instrumento de desinformação e de dominação, gerador de consensos e de hegemonia classista, não permite aos telespectadores-médios e emburrecidos uma única reflexão crítica, a qual possibilite à estes últimos, desnudarem as contradições históricas, compreendendo, que os Xavantes vêm sendo expropriados, escravizados, aculturados e assassinados, historicamente, desde os meados do século XIX, onde expedições de bandeiradas oriundas de São Paulo -tendo por finalidade o extrativismo de Ouro e a produção de especiarias, na região Centro Oeste- levavam tal grupo Jê à migrar incessantemente para o sertão Mato-grossense e para zonas interioranas, fugindo dos bandeirantes, do trabalho compulsório, doetnocídio e das monções [1] exporádicas.
Esta etnia indígena -assim como os Apaches nos Eua, em um episódio conhecido como: “A marcha para o Oeste”-, também se rebelou contra a sociedade-civil e contra a ordem vigente opressora e assassina imposta, passando então -sem muita compreensão da conjuntura-histórica, econômica, política e não obstante, de quem seja de fato, o inimigo de classes- a lançar-se à atividades bandoleiras contra a Civitahodierna, talvez, como uma forma estranhada de insurgência contra a civilização do capital.
Daí então, nas telas do telejornal global, parcial e contumaz, “e de uma hora para outra”, o “bom selvagem Rousseaniano” (proveniente do romantismo trivial e burguês) transmuta-se no bárbaro antropófago, no incivil silvícula e "feroz atarracado", aquele que é “indomável por índole”: o homem que é lobo de si próprioe que oferece hostilidades ao "cidadão-de-bem" em uma "Bellum Omnes contra Omnes" [guerra de todos contra todos], o homem tipicamente Hobbesiano é o que a mídia se esforça por passar, ao retratar o índigena e as raizes do povo brasileiro como: venal por essência, aquele que deve aceitar o "processo civilizatório" e que "é vil" porque evadiu-se como fera do contrato-social.
[1] – As monções eram expedições fluviais [lançadas pelos bandeirantes] que, entre a segunda década do século XVIII e a primeira metade do século XIX, mantiveram as comunicações entre a capitania de São Paulo e a capitania de Mato Grosso no Brasil. Em sua origem, o termo se refere ao regime proposto em 1059, que define o período propício à navegação. No Brasil daquela época, porém, tratava-se do ano favorável às viagens fluviais, considerando-se o regime dos rios - cheias ou vazantes. (CAVALCANTE, Messias Soares. A verdadeira história da cachaça. São Paulo: Sá Editora, 2011. 608p.)
* Felipe Lustosa é professor de história, estudante de filosofia e militante do Núcleo Elizeu Alves de Jovens Trabalhadores da UJC - RJ.